terça-feira, 26 de julho de 2011

Sapos e Afogados - Belo Horizonte

Durante a disciplina Saúde Mental no Brasil: Experiências Inovadoras, realizada na UFMG no primeiro semestre de 2011, os alunos produziram uma série de trabalhos sobre experiências no âmbito da saúde mental. Vamos aproveitar o espaço do nosso blog para compartilhar a produção dos alunos de graduação em Psicologia.


Sapos e Afogados
Por Agatha Rotelli, Ana Luíza Sant’Anna, Andressa Moreira, Áquila Bruno, Juliana Prates, Luisa Guimarães


Histórico
A reforma psiquiátrica é resultado de um movimento que luta pela inserção ampla do louco na sociedade (GOULART, 2010). Esta, que para um significativo segmento desse movimento, só se dará com o fim dos manicômios. A reforma psiquiátrica brasileira teve inicio, no Brasil, no final da década de setenta (VASCONCELOS, 2000). A partir de então, diversas iniciativas foram elaboradas visando à estruturação do serviço de saúde mental no Brasil, tal como a criação de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos. Tais ações visam não apenas o tratamento do louco, mas sua co-responsabilidade neste processo, inserção do portador do sofrimento mental no território da cidade, a criação de laços e redes sociais e o fortalecimento do vínculo com a comunidade (SAÚDE, 2003).

Tendo em vista as propostas da reforma psiquiátrica brasileira, vemos atualmente diversas iniciativas que buscam reafirmar que a loucura deve estar presente no cotidiano da cidade, questionando os estigmas e a exclusão política, social e cultural impostas para aqueles que fogem do padrão de normalidade instituído. Dentre tais iniciativas encontra-se o Núcleo de Criação Sapos e Afogados formado por atores/usuários de saúde mental, que desenvolve pesquisa na área teatral e áudio-visual.



Residência Casa Breve


O grupo foi criado no ano de 2002, tendo início com o trabalho da atriz e diretora Juliana Barreto nas oficinas de teatro oferecidas pelos Centros de Convivência da rede pública de saúde mental, na cidade de Belo Horizonte. Inicialmente, nas oficinas do Centro de Convivência participavam entre 60 e 80 oficineiros. Ao longo do tempo 12 usuários se organizaram e criaram a Cia. Momentânea de Teatro, que era um grupo que estava interessado em apresentar em outros espaços, além do circuito da rede de saúde mental. A partir daí surgiu o primeiro espetáculo do grupo “Sapos e Afogados”, que traz personagens inusitados que invadem a cidade. Atualmente o grupo já desenvolveu diversos curtas-metragens, com a parceria com o diretor José Ricardo Júnior, estes que já ganharam prêmios em diversas mostras de cinema. Juliana Barreto afirma:

"Nos trabalhos do SAPOS e AFOGADOS, tanto nos curtas como nas montagens teatrais, o que vemos não é um delírio, ao contrário é um momento de “puro estado de jogo” em que nos permitimos tecer e brincar com metáforas delirantes travadas com o espaço, com o próprio corpo, com o outro. Embora reconheçamos o delírio como um “trabalho”, uma feitura, uma confecção da loucura, o que interessa a nós nesta busca é uma construção cênica vinda desta nova lógica, onde o significado fica aberto podendo ser lido de diversos modos."

A importância desse trabalho se dá não apenas pela beleza e profundidade da obra construída pelos atores, mas também pela possibilidade destes de ocuparem a sociedade. Ou seja, vê-se que a construção artística pode ser feita por meio de outra lógica e outro lugar. Nota-se que o portador de sofrimento mental, com seus delírios e alucinações, podem pertencer ao mundo dos ditos normais. No teatro estes sujeitos redescobrem um novo lugar, onde é possível criar um novo sentido para viver. Tal afirmação pode ser observada nas falas dos participantes:

"...Acho que a autoestima. Melhora a autoestima quando você consegue... É uma motivação pra vida, que você descobre que tem a área da cultura..." (Ellon Rabin, um dos participantes do grupo -Entrevista feita com os Sapos em 2007 - reportagem de Thaís Pimentel pra a rádio CBN.)

"Nos ensaios tinha alguns problemas. E cada um com suas dificuldades, tá certo? E aí, tinha que parar um pouco, e aí, respirar um pouco fundo e aí, recomeçar de novo. E eu vi que... não é nem pelo dinheiro, sabe? É assim, é a... É você soltar suas emoções, é você por pra fora. Não dá nem pra descrever. Eu fico feliz de mostrar pra minha família que eu sou uma pessoa... um ser humano que é capaz de produzir, como todos nós desta vida, desse mundo de Deus. Nós somos capaz de produzir e fazer coisas bonitas." (Ludmila Kondziolkova, uma das participantes do grupo - Entrevista feita com os Sapos em 2007 - reportagem de Thaís Pimentel pra a rádio CBN.)

Reunião do grupo Sapos e Afogados


Atividades desenvolvidas
Nos trabalhos do grupo Sapos e Afogados temos tanto mostras quanto a produção de curtas-metragens, montagens teatrais, oficinas de teatro e a participação nos movimentos culturais. O grupo participou da Mostra de Arte Insensata e tem as peças “Caixa preta”, “Casa breve – Residência Artística/ Habitação criativa” e “3 frames noturnos” compondo seu repertório.

O grupo produziu o curta-metragem "Convite para jantar com o camarada Stálin" (2007), e posteriormente desenvolveu outro curta-metragem, o "Material bruto" (2007), que é uma das atividades mais reconhecidas do grupo. "Material bruto" retrata quatro seres que buscam o momento de saírem de si, e foi exibido e premiado em diversos festivais. Já as peças teatrais de destaque do grupo são "Caixa Preta" e "3 Frames Noturnos".

Em novembro de 2008 o grupo realizou uma Mostra de Curtas, onde foram exibidos os curtas Cocais, Siesta, Simitério de Adão e Eva, além do já citado curta de autoria dos próprios membros do Sapos e Alagados - Material Bruto. Esta mostra recebeu o nome de "A poética da loucura" e após os filmes foi apresentado também o ensaio da peça "Caixa Preta".

Mais recentemente, em outubro de 2010, o grupo participou da 2ª Mostra de Arte Insensata e, em abril de 2011, promoveu o evento “Casa Breve – Residência Artística/ Habitação Criativa”, quando pela primeira vez abriram sua casa ao longo de um dia para expor seus trabalhos, compostos de shows, encenações breves, rodas de conversa e demonstração de um curioso exercício, chamado MIRRA.

Cartaz do evento "Casa Breve – Residência Artística/ Habitação Criativa"




Demonstração de MIRRA = aprendendo com o aluno - Com Edmundo



Por fim, o grupo também mantém atualizado um blog, onde são postados seus curtas, vídeos, fotos e notícias, além de constantemente escreverem sobre o tema da Saúde Mental.

Sapos e Afogados é uma grande experiência em expansão! Um trabalho que está crescendo, improvisando e delirando. Um grupo que conseguiu achar em sua loucura um meio de viver, produzir e fazer arte.



Referências
VASCONCELOS, E.M. Breve Periodização Histórica do Processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil Rrecente. RJ: Cortez, 2000.
GOULART, Maria Stella Brandão; DURÃES, Flávio. A reforma e os hospitais psiquiátricos: histórias da desinstitucionalização. Psicologia e sociedade; 22(1):112-120, jan.-abr. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822010000100014
http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/03_0277_%20M.pdf/ Acesso em 28 de abril de 2011, às 11h e 41 minutos.
http://saposeafogados.blogspot.com/ Acesso em 28 de abril de 2011, às 9h e 10 minutos.
http://www.facebook.com/profile.php?id=100002190934929&sk=info#!/profile.php?id=100002190934929/ Acesso em 28 de abril de 2011, às 10h e 40 minutos.
http://www.guiaentradafranca.com.br/agendaG.php?idUrl=2889 Acesso em 28 de abril de 2011, às 10h




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