quinta-feira, 28 de julho de 2011

Museu de Imagens do Inconsciente - Rio de Janeiro

Durante a disciplina Saúde Mental no Brasil: Experiências Inovadoras, realizada na UFMG no primeiro semestre de 2011, os alunos produziram uma série de trabalhos sobre experiências no âmbito da saúde mental. Vamos aproveitar o espaço do nosso blog para compartilhar a produção dos alunos de graduação em Psicologia.


Museu de Imagens do Inconsciente
Por Vanessa Oliveira, Henrique Cardoso, Fernanda Cordeiro, Filipe Falconi e Isabela Tavares


O Museu de Imagens do Inconsciente originou-se nos ateliês de pintura e de modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II (atual Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira) no bairro do Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, organizada e supervisionada por Nise da Silveira* e pelo pintor Almir Mavignier (1925), em 1946. Neste período, a pintura e modelagem assumiram uma posição diferenciada, já que a produção desses ateliês era grande, interessante cientificamente e útil no tratamento psiquiátrico.

A partir disso, surgiu a idéia de organizar um Museu que reunisse as obras criadas nesses setores, oferecendo ao pesquisador condições para o estudo de imagens e símbolos e para o acompanhamento da evolução de casos clínicos através da produção plástica espontânea. Assim, em uma pequena sala, em 20 de maio de 1952 foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente. Em 28 de setembro de 1956, com a presença de ilustres psiquiatras (Henry Ey, de Paris; Lopez Íbor, de Madrid; Ramom Sarró, de Barcelona), passa a ocupar instalações mais amplas e já tinha uma coleção, segundo Lopes Íbor, única no mundo.

Na definição de Nise, o museu consistia de um "centro vivo de estudo e pesquisa", reunindo acervo das pinturas, desenhos e esculturas dos freqüentadores do Setor de Terapia Ocupacional e Reabilitação (STOR) dirigido por ela entre 1946 e 1974. Nise recusava os tratamentos psiquiátricos tradicionais e passa a utilizar as teorias da antipsiquiatria, da psicologia de Carl Gustav Jung (1875-1961) e dos desenvolvimentos na área específica da teoria ocupacional para a recuperação dos doentes mentais. Enfatizava a importância do contato afetivo e da expressão criativa no processo de cura, abrindo, assim, os ateliês dentro do STOR, com a orientação aos monitores para não interferirem na produção dos pacientes.

Desde 1946, o Museu de Imagens do Inconsciente continua existindo até hoje sendo, graças à sua fama internacional, ao sucesso artístico de muitas obras e a “Sociedade de Amigos do Museu do Inconsciente” (SAMII).

A sem fins lucrativos, criada para incentivar e apoiar as iniciativas científicas e culturais do Museu de Imagens do Inconsciente. Foi fundada em 1974 e teve em seus quadros a participação de importantes personalidades do cenário cultural e científico do Brasil. Seus objetivos são difundir experiências e resultados das atividades técnico-científicas empreendidas pelo Museu de Imagens do Inconsciente bem como incentivar estudos e pesquisas correlatas, promover exposições, dentro e fora do espaço formal do Museu, cursos, conferências, palestras e debates, sessões cinematográficas ou dramáticas, audições musicais, concertos e outras realizações de ensino e informação audiovisual e editar livros, revistas, catálogos, cartões e dispositivos. Para consecução dos seus fins, vem celebrando convênios com outras entidades, públicas e privadas, como FINEP, Ministério da Cultura, Ministério da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente é uma sociedade civil Educação, RIOARTE, IBM, etc.

O Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira está organizado em 4 setores: Reserva Técnica; Ensino, Pesquisa e Divulgação; Administração; e Ateliês Terapêuticos.

A Reserva Técnica tem como objetivo a guarda, organização e conservação das obras produzidas nos ateliês terapêuticos: telas, papéis, modelagens, textos e poemas; com 352 mil obras em acervo. A partir de 2002, iniciou-se a reorganização e informatização do acervo, estando hoje várias obras disponíveis em exposições virtuais. Em 2003, esse esforço conjunto possibilitou o reconhecimento da universalidade desse acervo por meio do tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) das principais coleções constituídas pela Dra. Nise da Silveira.

O setor de Ensino, Pesquisa e Divulgação do museu oferece hoje cursos, palestras e debates, biblioteca especializada, videoteca e visitas orientadas. Promove exposições nacionais e internacionais, estudos de casos clínicos e orientação a pesquisadores. A administração é responsável pelo gerenciamento dos recursos humanos, manutenção da infraestrutura, limpeza e segurança. Os Ateliês Terapêuticos estão abertos a clientes internos e externos e oferecem atividades expressivas e criativas como forma de tratamento.

Desde julho de 1968 funciona como atividade do museu um Grupo de Estudos que tem como objetivo principal o acompanhamento do processo psicótico através de imagens apresentadas em exposições. Este Grupo tem caráter marcadamente interdisciplinar, o que permite troca constante entre experiência clínica, conhecimentos teóricos de psicologia e psiquiatria, antropologia cultural, história, arte e educação. O Grupo reúne-se com regularidade às terças-feiras, às dez da manhã e está aberto a todos os interessados.

O método de trabalho no MII consiste principalmente no estudo de séries de imagens, permitindo acompanhar o desdobramento de processos intrapsíquicos. São organizadas séries de um mesmo paciente, o que permite ao terapeuta melhor compreender a situação psíquica do autor das imagens. Outras seleções reúnem temas de incidência frequente em diversos casos clínicos como mandalas, rituais, metamorfoses, animais fantásticos, etc.

O trabalho no ateliê revela que a pintura não só proporciona esclarecimentos para compreensão do processo psicótico mas constitui igualmente verdadeiro agente terapêutico. As imagens do inconsciente objetivadas na pintura tornam-se passíveis de uma certa forma de trato, ainda que não haja nítida tomada de consciência de suas significações profundas. A experiência demonstra que a pintura pode ser utilizada pelo paciente como um verdadeiro instrumento reorganizador da ordem interna.

Ao longo de seus anos de atividade, este trabalho reuniu todo um grupo de enfermos, que por meio das atividades criativas reencontraram o convívio social e o afeto. Mostrando em incontáveis documentos as vivências sofridas pelos pacientes, bem como as riquezas do seu mundo interior invisíveis para aqueles que se detêm apenas na miséria de seu aspecto externo, o trabalho realizado no Museu de Imagens do Inconsciente aponta para a necessidade de uma reformulação da atitude face a esses doentes e para uma radical mudança nos tristes lugares que são os hospitais psiquiátricos.

* Nasceu em Maceió, Alagoas, em 1905 e formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1926. Em 1933 fez um curso para Médica Psiquiatra da antiga Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental. Entre 1936 e 1944, foi afastada do serviço publico por motivos políticos e readmitida em 17 de abril de 1944, sendo designada para ter exercício no Centro Psiquiátrico Nacional (atual Instituto Municipal Nise da Silveira). Por se recusar a utilizar os tratamentos habituais dados aos pacientes psiquiátricos como: eletrochoque, lobotomia, internação etc. Nise foi deslocada para o setor de Terapia Ocupacional, local que não era bem visto pelos médicos. Foi nesse setor que em 1946 teve inicio os ateliês de pintura e modelagem, que levarão a criação do Museu de Imagens do Inconsciente com o propósito de reunir as obras produzidas pelos pacientes. Assim, em 1946 fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional no antigo Centro Psiquiátrico Nacional e em 1952, reunindo material produzido nos ateliês de pintura e de modelagem desta seção, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente. Já em 1956 Nise cria a Casa das Palmeiras, com o objetivo de ser uma referencia aos egressos dos hospitais psiquiátricos. Ela escreveu diversos livros e textos sobre a Psiquiatria e faleceu no ano de 1999, aos 94 anos no Rio de Janeiro.

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