segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eventos Acadêmicos - Medicina/UFMG

  • Primeira Jornada de Toxicologia - Jatox
    A I Jornada Acadêmica de Toxicologia acontece entre os dias 16 e 18 de junho, sempre das 17h às 22h, no Salão Nobre, térreo da Faculdade de Medicina da UFMG. O objetivo da Jatox é contribuir para a divulgação de trabalhos científicos relacionados à toxicologia e para a formação mais qualificada dos profissionais da saúde.

    Informações: jatox2010@gmail.com
  • VII Jornada Acadêmica de Saúde Mental - Jasme
    A VII Jasme acontece nos dias 20, 23 e 24 de setembro de 2010, na Faculdade de Medicina. O objetivo da jornada é desenvolver o aprendizado e debater assuntos relacionados à Saúde Mental, além de estimular a produção e divulgação de trabalhos científicos da área.

    Informações: jasme-2010@hotmail.com

domingo, 30 de maio de 2010

Entrevista com Paulo Amarante

Pesquisador fala sobre evento
que discutirá rumos da saúde mental




No mês de junho, entre os dias 3 e 5, acontecerá, na cidade do Rio de Janeiro, o 2º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, com o tema Loucura e saúde mental no século XXI: enfrentamentos, territórios e fronteiras. Organizado pela ENSP/Fiocruz, por intermédio do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), o evento está com as inscrições abertas e acontecerá na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo o presidente do congresso e coordenador do Laps/ENSP/Fiocruz, Paulo Amarante, o campo da saúde mental vem enfrentando uma variedade de desafios, dentre eles, a necessidade de integração e operacionalização dos novos serviços, em substituição ao modelo assistencial tradicional, e uma interação entre a prática e as áreas de conhecimento que compõem o sistema de saúde como um todo.

A programação científica do 2º Congresso está sendo construída com diferentes modalidades de atividades, tais como mesas-redondas, palestras, oficinas, comunicações coordenadas, além de apresentações artístico-culturais, cujos conteúdos deverão refletir a produção intelectual, a pesquisa, os projetos de extensão e a produção artística e cultural que constituem o campo da saúde mental.

Mais de 2 mil pessoas são esperadas nos debates a fim de contribuir para melhorar a integração entre as diversas esferas da sociedade, com a intenção de promover os serviços humanizados e voltados para a saúde coletiva, bem como para a afirmação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Confira, abaixo, a entrevista que Paulo Amarante deu ao Informe ENSP.


Informe ENSP: O 2º Congresso Brasileiro de Saúde Mental - Loucura e saúde mental no século XXI: enfrentamentos, territórios e fronteiras - acontecerá em junho. De que forma o tema será tratado?

Paulo Amarante: O tema abordará as perspectivas de superação do modelo psiquiátrico tradicional, manicomial, da discriminação e segregação das pessoas em sofrimento mental e de possibilidades de construir saberes e práticas de saúde mental que rompam também com as estratégias de patologização e medicalização da vida cotidiana.

Informe ENSP: Como o congresso está estruturado? Qual é o volume de trabalhos e perspectiva de público?

Paulo Amarante: Ao todo, recebemos mais de mil trabalhos. Vem gente de todo o país e de outros países latino-americanos. Será um momento privilegiado de encontro, debates e construção de caminhos coletivos de novas políticas e estratégias no campo, não apenas da saúde mental, mas da cidadania, dos direitos humanos, da saúde como democracia.


A conferência de abertura contará com a presença de convidados importantes, a começar pelo ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Franco Rotelli e Ernesto Venturini, expoentes internacionais da reforma psiquiátrica; Paul Singer, da Secretaria Especial da Economia Solidária; Maria Rita Khel, Antonio Lancetti, Miriam Chnaiderman e Gregorio Kazi, da Universidade Popular das Madres da Plaza de Mayo; enfim, muita gente engajada na luta antimanicomial.

Informe ENSP: Para a ENSP, qual a importância de organizar esse congresso?

Paulo Amarante: Para nós, a importância maior está em poder contribuir no processo de consolidação, aperfeiçoamento da reforma psiquiátrica no Brasil e de oferecer nosso recorte teórico e político, que é o de não pensar a reforma psiquiátrica exclusivamente como reforma de serviços, reforma administrativa, mas sim como transformação cultural, social e política, como transformação das relações entre sociedade e cultura.

Informe ENSP: Temos visto na sociedade um debate defendendo os manicômios como forma de tratamento das pessoas com sofrimento mental. Essa questão será abordada no congresso?

Paulo Amarante: Sempre existiram pessoas defendendo os manicômios. Em geral, são pessoas que têm interesses no campo, empresários de hospitais psiquiátricos ou pessoas que não aceitam os avanços no âmbito social, da igualdade, solidariedade e acham que os diversos, os diferentes deles, tenham de ser tutelados ou excluídos. Mas as práticas democráticas e solidárias têm tido terrenos mais férteis, graças às lutas dos movimentos sociais de usuários, familiares, técnicos e outros ativistas das lutas pelos direitos humanos.

Informe ENSP: Além do Congresso Brasileiro, está programada, para 2010, a Conferência Nacional de Saúde Mental. De que forma os eventos se relacionam? O que representa a realização desses dois eventos e do reconhecimento da importância de se abordar a saúde mental em todo o país?

Paulo Amarante: O congresso é uma excelente oportunidade para que as pessoas que irão à IV Conferência Nacional de Saúde Mental possam trocar algumas ideias, debater aspectos fundamentais da política nacional de saúde mental antes do evento. Os delegados que estão sendo eleitos nos estados terão a oportunidade de sentir as experiências e propostas dos pares de outras regiões. E, muito importante também, as pessoas que não são delegados e não irão à conferência poderão participar dos debates e contribuir nesses dias decisivos.

Informe ENSP: Você relacona a cultura e a saúde mental como forma de tratamento e de inclusão social. O Congresso Brasileiro de Saúde Mental trará apresentações culturais durante sua realização?

Paulo Amarante: Teremos muitas atividades culturais, como sempre, graças ao trabalho conjunto e sistemático que o Laps/ENSP/Fiocruz vem realizando com a Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura. Estão marcados shows com as bandas Sistema Nervoso Alterado (com uma performance do grupo Camisa de Força), Harmonia Enlouquece e Lokonaboa , apresentações de teatro com Pirei na Cenna e muitos outros grupos de Teatro do Oprimido, do grupo Os Nômades etc. Haverá a exposição de murais de poesia Versamente, em homenagem ao poeta Jorge dos Milagres, desaparecido desde dezembro do ano passado, com apresentação de seus trabalhos em diferentes estilos, de Qorpo Santo, Lima Barreto, Torquato Neto, Austregésilo Carrano, do livro que originou o filme Bicho de 7 Cabeças, Marco Bahury, Alexandre Bellagamba; teremos ainda uma mostra de camisetas selecionadas do movimento da luta antimanicomial.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Fotos do Desfile do 18 de Maio








Dia Nacional da Luta Antimanicomial




Para quem está no Rio de Janeiro...
ENSP, TV Pinel e CRP-RJ se unem no Dia Nacional de Luta Antimanicomial - Nesta terça-feira (18/5) a Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/Fiocruz, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro e a TV Pinel realizam o grande show ato em alusão ao Dia Nacional de Luta Antimanicomial na Praça da Cinelândia, das 15 às 19 horas. O objetivo é não só propor mudanças no cenário da Atenção à Saúde Mental, mas, principalmente, questionar as relações de estigma e exclusão que social e culturalmente se estabeleceram para as pessoas que vivem e convivem com a loucura. O evento contará com as atrações: Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou, Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, Harmonia Enlouquece, Chicas, Cancioneiros do IPUB, Pirei na Cena (grupo teatral), Poeta Chacal, Exibição do vídeo TV Pinel e apresentação de Rafael Carvalho (Zé Tonhão).

Para quem está em Campina Grande...
Estão programadas durante todo o dia atividades na Universidade Federal de Campina Grande.

Para quem está em Salvador...
Está programada para o dia 22 de maio, sábado, a 3ª Parada do Orgulho Louco em Salvador-BA. Esta atividade será promovida pelo Coletivo de Entidades Antimanicomiais da Bahia em parceria com o Conselho Regional de Psicologia da 3ª Região BA/SE.


E para quem está em Belo Horizonte...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Samba Enredo do 18 de Maio de 2010 - BH

TEC TEC TEC
(Criação Coletiva do Centro de Convivência São Paulo)

Tec Tec Tec Tectônica
Parece uma bomba atômica
Todo abalo à sociedade
Que vive sem a solidariedade

O Haiti também é aqui
Há em ti, há em mim a solidariedade
Com a Loucura contagiando essa cidade
A Liberdade ainda que Tan Tan
Tira da dor a felicidade

Nossa arte tá na rua
De mãos dadas à Loucura
Ela é minha e também sua
Aterremota a Ditadura
Então venha nessa entrar no nosso balão
Traga com você a criança do seu coração

REFRÃO (tec tec tec)

Basaglia viu e também anunciou
O Bispo pirou e sua arte iluminou
Salve o terremoto a favor da liberdade
Cantemos com toda energia
O Manicômio vá pra rima que o pariu

REFRÃO (tec tec tec)

Nem todo remédio cura nem toda receita é pura
Vamos quebrar a mutreta da indústria tarja preta
Descer a marreta, chutar o pau da barraca
Quero ver agora quem fecha a minha matraca


Para baixar o audio, clique aqui.
Créditos: Blog da Camila

segunda-feira, 10 de maio de 2010

18 DE MAIO – Dia Nacional da Luta Antimanicomial

Hoje colocamos no blog o texto da Comissão Organizadora
do 18 de Maio de 2010 em Belo Horizonte.

Falta apenas uma semana!

Muita história pra contar

E passaram voando os quase 365 dias depois do último Dezoito de Maio quando, mais uma vez, com graça e beleza, o movimento antimanicomial de Minas Gerais marcou o ápice da luta Por uma Sociedade sem Manicômios.

Em meio às manifestações do “dezoitão” de 2009, num evento no Senado, em Brasília, correntes conservadoras pediram e propuseram o retrocesso dos avanços da Reforma Psiquiátrica, considerando apenas as dificuldades, sem levar em conta as nossas conquistas e os avanços históricos da política pública de saúde mental no país.

E prá balançar as estruturas, textos do Ferreira Gullar, através de veículos de comunicação de circulação nacional, colocaram em xeque o que construímos e vivenciamos todos os dias nos serviços substitutivos. Críticas que destituíam de maneira leviana anos de conquistas de usuários, familiares, trabalhadores e militantes.

A nossa resposta veio à altura. Partimos em defesa do que acreditamos. O fizemos através dos blogs, e-mails e das cartas não publicadas pela mídia. E fomos mais longe. Minas levou a Brasília 23 ônibus para a “Marcha dos Usuários por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial”. Retomamos os princípios da luta, a mobilização pelo país afora e o protagonismo dos usuários, herdeiros daquilo que começou com os especialistas, seus porta-vozes, até a construção da condição para que esses mesmos usuários-cidadãos pudessem falar de si e por si mesmos.

Essa é a luta por delicadeza que fazemos, uma luta que não é fácil, e muito menos simples. É vanguardeira e corajosa, porque desafia o conforto dos saberes, balança a acomodação dos conservadores e propõe uma outra sociedade, aquela onde não existam manicômios simbólicos, mentais, virtuais e tampouco os concretos, feitos de pedra e cimento.

E 2010 promete! A IV Conferência Nacional de Saúde Mental, uma das reivindicações da Marcha a Brasília, acontecerá, ainda no 1º semestre, em meio à construção e a realização do Dezoito de Maio. Por isso iniciamos mais cedo. E a manifestação pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial do ano de 2010 em Belo Horizonte já tem forma e conteúdo, construídos democrática e coletivamente pelos membros da comissão organizadora. Aqui o tom é a diversidade e as cores são as da liberdade de se expressar em cena, dizer o que se sente, desconsertando o previsível.

E pra iniciar o processo criativo, estimular as pesquisas, convidar os compositores e animar as alas, preparamos este breve texto que fala um pouquinho do processo de concepção do desfile deste ano. Boa leitura a todos(as)!

Há em ti, Há em mim

Milton Santos foi um brilhante geógrafo, intelectual e pensador das grandes questões da humanidade. Ele era baiano, de lá saiu e, contra todas as previsões da dura realidade de nosso país, dado ser ele negro e nordestino, desbravou o mundo, inovou o pensamento da geografia e das próprias ciências humanas, e, principalmente nos fez a todos um convite ao pensamento crítico sobre a nossa realidade. Em uma de suas últimas entrevistas diz que escolheu a geografia por sua opção pelo movimento e por sua paixão pela história e seus processos contraditórios. Milton Santos era um sujeito que sabia que nada se move por acaso e que não somos barco sem leme, soltos ao sabor do vento.

Das temáticas que tratou, uma que tomamos aqui emprestada é a idéia de território. Milton tratou os territórios como a matriz da vida social, econômica e política dos povos. Quanto olhava para um lugar não via apenas a geografia das formações geológicas e topográficas, das faunas e floras, do clima e dos fenômenos naturais. Via também sobre este lugar um povo e sua história, suas contradições, suas disputas, as relações de poder, via aqueles que oprimem e aqueles que lutam em sinal de resistência.

A construção do “18 de maio” começou neste ano de 2010 com uma bela reflexão sobre nossa realidade, uma análise de nossa conjuntura. Em nosso primeiro encontro, dia 20 de janeiro de 2010, estarrecidos estávamos todos com uma tragédia em um país caribenho, latino-americano, o Haiti, em que mais de 300 mil pessoas morreram, além de toda a devastação ocorrida e o desespero dos sobreviventes. Falávamos acometidos por todo o horror deste terremoto noticiado 24 horas por todos os veículos de informação a que temos acesso habitualmente. Nas televisões, rádios, jornais, internet, cenas de desespero de um país em ruínas. E ficamos todos a nos sentir meio impotentes diante do movimento natural da terra, que não controlamos, movimento de placas tectônicas que o tempo todo se esbarram, soltas que estão no imenso mar de lava das regiões mais centrais do planeta.

Mas como aprendemos geografia com Milton Santos, sabemos que o abalo sísmico atingiu um território, o Haitiano, seu povo, sua cultura, sua história. Mas que país é este e o que ele nos faz pensar? O que causa em nós, tão próximos e tão distantes deste território? E assim como Milton Santos, novamente, nos interessamos por tudo aquilo que é movimento. O movimentar das placas tectônicas não nos deixou boquiabertos diante do imponderável. Nos fez lembrar que tudo está em movimento e tais quais placas que se atracam e que causam terremotos é feito o curso da história. Muitas vezes algo tem que se chocar para que uma nova realidade se produza. Tomamos o movimento das placas tectônicas e os abalos que elas produzem como uma metáfora de toda contradição que se produz no encontro das diferentes formas de se entender a humanidade e a civilização. E que depende fundamentalmente de nós decidirmos o que faremos com os destroços que ficam destes terremotos.

Ficou exposta a insensibilidade dos governos no mundo globalizado. Um terremoto teve que acontecer no Haiti para “balançar” a sociedade mundial e que a mesma demonstrasse um pouco de solidariedade a um povo que já se encontrava de joelhos. Neste momento estão prostrados e ainda assim lutam pela vida. E o que neste momento se faz mais necessário é a solidariedade e o cuidado de um humano com o outro. As bases em que se organiza a sociedade humana têm aprofundado as desigualdades e apenas um chamado à união entre os homens poderá alterar esta realidade.

As diversas reações que esta tragédia provoca nos fazem pensar no sentido desta solidariedade. A dor do outro que também me dói, aquilo que existe em mim como gérmen de humanidade e de coletividade. Em meio às diversas manifestações de piedade e indulgências, aparece o imperativo da solidariedade. Ser solidário ao Haiti é tratá-lo não como um pedaço de coisa que desmoronou, mas como um país que tem história, que há anos é ocupado e expropriado, como tantos outros Haitis mundo afora.

Na luta por uma sociedade sem manicômios, muitos são os nossos terremotos, muitas são as nossas lutas de resistência. Somos um movimento solidário, buscamos o direito de existir em liberdade, ainda que tam tam! E neste ano de 2010 reafirmaremos a solidariedade como nossa bandeira. Só poderemos ter um mundo sem manicômios se entendermos que esta é uma luta de todos e que também se articula com tantas outras lutas. Apoiamos-nos e nos reconhecemos uns nos outros.

Solidariedade, um imperativo humano. Não temos tempo a perder, sejamos solidários já! Resgatemos todas as lutas dos povos contra aquilo que os oprime. Sejamos solidários com um simples gesto, lutar ao lado de quem resiste. A solidariedade, enquanto uma novíssima forma de organizar as relações, os coletivos, a produção, a economia. Apostamos no ser humano. Lembramos a todos: Solidariedade: Há em ti, há em mim.

18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Tema: Solidariedade: Há em ti, Há em mim

~ 1ª ala (Comissão de Frente) – Ala da Solidariedade:
“Me empresta tudo que resta que lhe devolvo sonhos de sobra”

A solidariedade é o nosso eixo condutor para conceber o “18 de maio” - 2010. E abriremos o desfile falando justamente sobre esta idéia. A frase-tema surge ao resgatarmos um belo dizer que figurou em um cartaz de divulgação do “18 de maio” de anos anteriores. Ela é precisa ao definir, com delicada poesia, o que entendemos por solidariedade. Podemos imaginar a possibilidade de um encontro quando aquele que pode ajudar pede como empréstimo os fiapos de esperança, o pouco ou quase nada que o outro ainda tem, para devolver sonhos e perspectivas para seguirem em frente, ambos agora agigantados pelo que trocaram entre si. Esta será uma ala que fará a todos o convite a isto que, não nos resta dúvida, é um imperativo humano. É o momento de convidar a cidade a participar deste nosso chamado à união e solidariedade para transformar este cenário de exclusão, que atinge a todos nós, loucos ou não. E dizer que só existe solidariedade em liberdade: “a liberdade não pira, transpira, para assim podermos respirar os ares do respeito, da dignidade, do convívio com a diferença, da circulação e intervenção na cidade”.

~2ª ala – Ala da experiência da loucura:
“Libertar-te da dor, encontrar-te com a cor”

A ala da loucura já é tradição nos desfiles da escola de samba Liberdade Ainda que Tam Tam. Este ano, além de explorar toda a experiência dos delírios e alucinações, seu lugar para os sujeitos e acolhimento necessário para as singularidades, queremos explorar as relações desta experiência da loucura nos encontros com a arte. Longe de querermos cair nos clichês do "artista doidão" ou mesmo da "arte-passatempo", apontamos a arte como o encontro do ser humano com a possibilidade de expressão, de transformação de si e do mundo. Pensamos aqui uma homenagem e uma interlocução entre a experiência da loucura, que é inerente à condição humana, e a Semana da Arte Moderna de 1922, quando através da liberdade, marcou-se o fim das regras em um novo conceito estético. Esse movimento possibilitou a criatividade não subordinada às regras; com ele foi possível dizer o que pensamos e pensar no que dizemos. A obra se manifesta pela singularidade e não pela semelhança a modelos prévios, permitindo assim o extravasamento da subjetividade. Outro ponto importante na construção desta ala é o desejo deste coletivo há um bom tempo de levar de alguma maneira para o desfile, as obras dos usuários dos serviços de saúde mental. Valorizar o que se produz nos centros de convivência, grupos, oficinas, CERSAMs, CAPS, NAPS, associações de usuários, etc.

~3ª ala – Ala das crianças e dos adolescentes:
“Todas elas cabem no nosso balão”

Falar de solidariedade para crianças e adolescentes nos trouxe a uma discussão sobre a própria condição em que eles se encontram em nossa sociedade. Vivemos um mundo em que a competição entre os seres humanos tornou-se regra, e este mantra é levado ao limite de introduzirem esta lógica para todos desde os primeiros anos de todos nós. Desde a cobrança por desempenho escolar, por habilidades esportivas extraordinárias, a preparação para o vestibular que já se inicia antes mesmo da alfabetização, as agendas de uma vida adulta, são todos exemplos de como se cobra que as crianças e adolescentes se adequem a um padrão burguês de estilo de vida. E junto disso, quem não cabe neste rol de exigências, seja por que enlouquecem, seja por que são pobres, ou negros, ou gordos, ou lentos, ou hiperativos, ou por possuírem qualquer outro rótulo, acabam excluídos do processo e condenados a periferia da sociedade. São os que não deram certo. Será? Qual é a responsabilidade todos nós para virar esse jogo? Como trazer para a cena a diferença como virtude e a solidariedade como valor? Então, caminhamos pelas cantigas de roda, pela canção infantil, para buscar uma simpática afirmação do Balão Mágico: “Todas elas cabem no nosso balão”. Essa frase vem reafirmar que toda criança tem direito à infância enquanto um tempo para experimentar, criar, fantasiar, brincar e ser feliz. Todas têm direito a uma vida digna, direito a se desenvolver plenamente e todas cabem no mundo com suas diferenças. Queremos uma sociedade que cuide de suas crianças, que construa os valores da solidariedade a partir da educação, do cuidado e do afeto: Todas elas cabem no nosso balão.

~ 4ª ala – Ala dos movimentos sociais:
“O balanço da loucura aterremota a ditadura da razão”

Os movimentos sociais são entendidos aqui como as placas tectônicas que se movimentam e nesse balanço é possível desconstruir algo para provocar o novo. Frutos de uma vontade coletiva, os movimentos sociais são ações de caráter sociopolítico, e na luta antimanicomial eles têm o importante papel na construção de outra sociabilidade. Com o título “O balanço da loucura aterremota a ditadura da razão”, os movimentos sociais representam aquilo que com força e energia abalam as estruturas estabelecidas, denunciando, protestando e lutando por um mundo diferente. Muitas há que se provocar terremotos nas estruturas e fazer de seu movimento algo transformador. Os movimentos representam a resistência em favor da vida ao longo da história. São tenazes em seus objetivos e solidários na sua construção. Apesar de muitas vezes duramente atacados, covardemente perseguidos, resistem na sua luta por um mundo melhor para todos. É o nosso convite para que se juntem a nós todos aqueles com os quais construímos laços de solidariedade. As comunidades de resistência, as mulheres, aos negros, aos sem-terra, aos estudantes, aos que lutam pelo direito a moradia, etc. O nosso balanço é o movimento da vida que se contrapõem ao movimento da morte que o capitalismo produz. Nossa luta é pelo imperativo da solidariedade.

~5ª ala – Ala da denúncia:
“Que mentira é essa? Quem me tira dessa?”

Denunciar as mentiras travestidas de verdade, este é o fio condutor desta ala. As discussões sobre este tema surgiram a partir de uma análise crítica de usuários e trabalhadores ao projeto de lei do ato médico, que pretende fixar em lei que ficará ao médico a posição de decidir sobre todos os rumos de um tratamento de saúde. A alguns olhares menos atentos, passa desapercebido o retrocesso que tal lei poderia causar a bandeiras importantíssimas defendidas pelos que lutam por uma saúde integral para todos e por uma sociedade sem manicômios. Defendemos a integralidade como princípio do SUS e condição para um tratamento que respeite o vínculo e multiplicidade dos saberes. Mas não será esta, nossa única denúncia. Tantas são elas: "Seja feliz comprando Xiisss", ou que hospício é um bom lugar, cheio de paz para morar. A mentira de que a gente só vale pelo que tem; que psicocirurgia, eletrochoque e a hipermedicalização em moda hoje, só fazem mal ao bolso de quem paga, mas que vale o investimento. A mentira de que a vida humana resume-se a questão biológica. Denunciar a falácia de que os governos estão caminhando para a construção da paz no mundo e que estão deveras preocupados com a pobreza da grande maioria, e que irão, de verdade, implementar políticas de preservação ambiental. Desmascarar a fantasia colorida da eterna juventude e também os atos interesseiros que querem passar por solidariedade.

~ 6ª ala – Ala das conquistas da Luta Antimanicomial:
“Basaglia viu e anunciou, Bispo luziu quando endoidou”

E para o grand finalle, a última ala contará a história da Reforma Psiquiátrica, seus avanços e desafios até os dias de hoje, começando com um feliz encontro, quando rompemos fronteiras para dialogar com a experiência mais radical até então - Trieste na Itália. A vinda de Basaglia a Minas Gerais no 3º Congresso Mineiro de Psiquiatria quando, naquele momento, anunciou para todos nós a possibilidade de uma nova ordem no sentido da ruptura com a estrutura iatrogênica, violadora dos direitos, violenta e segregadora em sua essência: o manicômio. A experiência de Trieste, a vinda de Basaglia ao Brasil, as denúncias da situação do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, foram um grande terremoto para nós. Fez colocar abaixo uma fachada de suposto tratamento para expor o horror que a segregação da loucura produz. E diante dos escombros, a luta antimanicomial ganha corpo e forma para dizer de sua luta. "Basaglia viu e anunciou, Bispo luziu quando endoidou!" é o nome dessa última ala que vai dizer da conexão Brasil – Itália, cujo resultado propiciou o tom e forneceu a medida para a concepção do modelo no qual propomos a superação da escuridão dos porões da loucura. E tomando emprestado mais um dos versos do compositor Airton Meireles, afirmamos que "Tá aí, saiu, a loucura tá nas ruas, tá na noite do Brasil!" E estaremos lá, em pleno centro da capital de Minas, para dar "mil vivas pelo que nos aviva!".

Saudações antimanicomiais!

sábado, 1 de maio de 2010

Simpósio Sulamericano de Políticas sobre Drogas

A Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude, por meio da Subsecretaria de Políticas Antidrogas, em parceria com a Assembléia Legislativa, Ministério Público, Associação Comercial, Instituto dos Advogados de Minas Gerais e SERVAS, realiza de 06 a 08 de maio o I Simpósio Sulamericano de Políticas sobre Drogas: Crack e Cenários Urbanos.

O evento tem por objetivo discutir e elaborar proposições efetivas frente às demandas do consumo abusivo de crack impostas à sociedade, tornando a política sobre drogas pauta das agendas setoriais do Governo. Será realizado no Centro Mineiro de Referência em Resíduos (Av. Belém, 40 - Esplanada / Cep.: 30285-010), em Belo Horizonte.

A abertura do Simpósio acontecerá na quinta-feira (06), às 08 horas e o evento prosseguirá na sexta-feira, das 08 às 18 horas, e no sábado, de 08 às 13 horas. Pesquisadores, estudantes e profissionais da área podem inscrever-se até o dia 04 de Maio. As inscrições são gratuitas.

Informações: (31) 3349-2500 ou issulamericano2010@yahoo.com.br





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